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Foto/Arquivo/Divulgação/Defesa Civil |
A tragédia do Bairro Garcia completa 35 anos neste dia 14 de outubro. Os fatos que aconteceram naquela madrugada em 1990 ainda permanecem vivos no coração e na mente de muitos moradores do Distrito do Garcia. Mas nada consegue apagar a marca trágica na alma do tecelão Antonio Carlos Bragagnolo, 67 anos.
Em declaração prestada ao Jornal a Voz da Razão em 2007 ele havia relatado que viu a sua casa sendo arrastada pela violência das águas. O que foi mais trágico ainda: viu, sendo arrastada pela enxurrada, sua esposa Eliana, 30 anos, sua filha Juliana, de 12 anos, o menino Marcos de sete e o bebê Marlon de sete meses.
A família morava no pé do morro, na Rua Belo Horizonte. De acordo com a Defesa Civil, naquele dia choveu 65mm em quatro horas. Um turbilhão de água desceu o morro, e arrastou casas, carros e sere humanos. Extra-oficialmente morreram 22 pessoas e oficialmente, 21. Duas delas estão desaparecidas até hoje. Havia gente enroscada nos bueiros, entulhos e enterrada na lama.
O corpo da filha de Antonio, Juliana foi encontrada próximo a uma boca de lobo na Rua da Glória. Já o de sua esposa Eliana foi parar próximo a antiga Artex, hoje Coteminas. “É triste para a gente. Cada aniversário, cada dia das crianças e Natal, isso tudo vem à minha mente. Só quem passa por isso sabe o quanto dói. Minha vida ficou um vazio. Nunca mais tive paz e fui feliz. Na época tinha vontade de morrer também. Daí pensei assim: se Deus não me levou, é porque tenho alguma coisa para fazer na terra ainda”, dizia ele na entrevista.
“Foi o dia mais triste de minha vida. Foi um dia de muita angústia, desespero e muita água. Foi um dia que jamais vou esquecer. Vi muitos mortos, desespero de pessoas, mãe perdendo filho, filhos perdendo pais, e muita gente desesperada, sem saber o que fazer, sem saber para onde correr. Até hoje a gente se lembra desse dia com muita tristeza. Foi o dia em que morreu meus parentes, pessoas queridas, amigos, vizinhos”, desabafou Mário César também em declaração prestada ao Jornal A Voz da Razão em 2007.
Além dos dois irmãos, outros parentes, vizinhos e amigos das vítimas do trágico dia 14 de outubro de 1990 se reúnem todos os anos para a celebração de uma missa na Rua Belo Horizonte. Eles encontram na fé, nos cânticos e nas orações um lenitivo para a dor. Nela alimentam a esperança e ânimo para continuarem vivendo e tocando a vida. Tentam assim, superar o trauma daquela tragédia que comoveu Blumenau e o Brasil.
A tragédia do Garcia aconteceu em plena Oktoberfest. O então prefeito Victor Fernando Sasse decretou luto no município e convocou os organizadores para decidir se cancelava a festa. A decisão tomada, foi pela continuidade da música e o consumo de chope nos pavilhões da então Proeb. O evento assumiu então caráter social e de solidariedade.
A Banda Alemã Helmuth Hoegl que se apresentava no então Pavilhão “C”, passou a cobrar ingressos que reverteram em benefício às famílias que perderam suas casas. O povo dançou e tomou chope, se divertiu, mas ajudou as famílias do Garcia a reconstruírem suas casas.